segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A furna-cemitério indígena da Serra da Raposa*

Vanderley de Brito, Thomas Bruno Oliveira e Dennis Mota**

Em março de 1958, o jornal de Campina Grande Diário da Borborema, a partir de uma matéria intitulada: ‘Verdadeiro cemitério na serra da Raposa’, inicia um levantamento jornalístico de uma ocorrência arqueológica no interior da Paraíba. O conjunto de matérias noticia o achado de 23 esqueletos humanos numa furna no alto da serra da Raposa, município de Pocinhos, por um agricultor de nome Severino Alves, numa ‘caverna’ de 5,5m de profundidade por 15m extensão, cujos moradores locais atribuíram este achado a astúcia de cangaceiros, que supostamente teriam ocultado ali vítimas de suas ações por estas terras, enquanto outros acreditavam tratar-se de um antigo cemitério de índios. O achado repercutiu no Estado e o comissário de polícia de Pocinhos recebera um radiograma do Chefe de Polícia, Dr. Tiburtino Rabelo de Sá, transmitindo instruções no sentido de não permitir a retirada das caveiras do local, pois o próprio iria em breve com o Dr. Leon Clerot, competente estudioso de assuntos indígenas na Paraíba, verificar o achado.

Dias depois, segundo a equipe do jornal, o chefe de polícia viera até a caverna acompanhado de legistas, que fizeram exames na ossada declarando estar afastado a hipótese de crime. Também estivera no local o delegado especial de polícia de Campina, Dr. Francisco Maria Filho, designado para presidir o inquérito da descoberta. Segundo suas declarações estas ossadas deviam pertencer a vítimas do cólera morbus, entretanto, Leon Clerot iria fazer o exame do solo da caverna, pois, no local fora encontrado um adorno de origem indígena, o que favorecia à teoria de tratar-se de restos mortais de antigos índios.

Posteriormente, o pesquisador Clerot esteve na referida furna e encontrou-a totalmente revirada por caçadores de botijas e curiosos, entretanto, revolvendo a terra, encontrou uma conta de colar em pedra verde perfurada em sentido longitudinal, comprovando tratar-se de um cemitério indígena, ou seja, um sítio arqueológico pré-histórico.

A furna ficou esquecida por 51 anos sem que outros estudiosos fossem ao local para uma reavaliação do achado. Todavia, uma equipe da Sociedade Paraibana de Arqueologia, composta pelos autores deste artigo, resolveu tentar reencontrar o local e fazer um levantamento do atual estado deste nicho arqueológico. A expedição se deu no dia 11 de junho próximo e a equipe foi guiada pelo neto do antigo proprietário das terras, Sr. José Guedes do Santos, que, na época era ainda criança, embora trouxesse recordações “... daquele rebuliço” deste macabro achado fortuito.

A furna é uma curiosidade espeleológica formada por duas grandes rochas (de 16 metros de extensão) afloradas na meia encosta da Serra da Raposa, estando uma de frente para a outra e uma destas obliquamente inclinada formando cobertura para um salão que se forma no intervalo entre as rochas. No solo deste salão é onde se encontravam as sepulturas, restando ainda alguns poucos ossos humanos dispersos sobre o sedimento como testemunho de que ali havia um cemitério ameríndio, também encontramos um fragmento de óxido de ferro, mineral largamente utilizado para a confecção de tinta vermelha para pinturas rupestres.

Apesar de estar totalmente revirado o solo da época da descoberta, este sítio ainda pode trazer respostas à arqueologia se uma nova escavação de resgate for efetuada no sentido de tentar enquadrar a cultura e a etnia dos índios que outrora ali foram inumados. Uma vez que, a escavação efetuada pela polícia científica e o posterior resgate realizado pelo pesquisador Leon Clerot, naquele distante final da década de 50, não foram devidamente documentados e nem se tem notícias do destino das assadas, outro aspecto é que não se sabe a real profundidade daquele sedimento e sendo assim, podemos ter alguma estratigrafia preservada, o que pode fornecer informações importantíssimas para a compreensão do passado de nossa região.

*SBE Antropoespeleologia Nº25-Ano 03 - 2009
** Membros da Sociedade Paraibana de Arqueologia (//arqueologiadaparaiba.blogspot.com)

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Atualizações:
Thomas Bruno Oliveira (thomasarqueologia@gmail.com)

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