quinta-feira, 18 de março de 2010

Salvem nosso Patrimônio II

Thomas Bruno Oliveira*

Na última semana produzi o texto ‘Salvem nosso patrimônio!’ onde demonstrei o descaso que vem ocorrendo com o patrimônio histórico/arqueológico da cidade de Campina Grande. Além de afirmar que prédios vêm sendo demolidos constantemente, mencionei uma obra que ocorre no Centro Histórico de nossa cidade.

Estarrecido com mais uma depredação de nossa história, afirmei: “O solo sagrado do epicentro de nossa cidade está sendo remexido, cavado, profanado sem nenhum acompanhamento arqueológico. Neste sedimento, sem dúvidas, há uma infinidade de vestígios de nossos pretéritos habitantes, antigas fundações e estruturas, louças, faianças, objetos de metal e outros vestígios que podem ‘falar’, nos dando informações preciosíssimas sobre a história da cidade, são páginas de um passado que estão sendo rasgadas sem mesmo terem sido lidas.”

No dia de hoje, terça-feira (16 de março de 2010) lí no Jornal da Paraíba a matéria: ‘STTP interdita a partir de hoje 9 ruas com estacionamentos’ afirmando que a Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos de Campina (STTP) estará interditando trechos do estacionamento Zona Azul a partir de hoje, por solicitação da empresa GVT (operadora de telefonia e internet) “que vai executar serviços de canalização nos logradouros” e ainda mais: “O cronograma segue com a interdição na rua Conselheiro Eufrásio no próximo sábado. A Barão do Abiaí terá o fluxo de veículo proibido no sábado e domingo. Na próxima semana será a vez das ruas Maciel Pinheiro nos dias 22, 23 e 24. A Venâncio Neiva nos dias 25, 26 e 27. A rua Cardoso Vieira nos dias 27 e 28 deste mês. A execução das obras será finalizada nos dias 28 e 29 na rua Marques do Herval.”.

Como podemos perceber, basta conhecer um pouco de História da Paraíba e mais especificamente de Campina Grande, para saber que estas ruas citadas fazem parte exatamente do epicentro velho da cidade, palco de acontecimentos como a chegada da luz elétrica, a comercialização do algodão, além do mercado público da cidade que antes de habitar o lugar atual, funcionou numa porção da atual rua Maciel Pinheiro, sem contar que dali partiu a dispersão para a ocupação de outras áreas da Campina.

Em contato telefônico com o IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba), órgão que cadastrou e reconheceu o nosso Centro Histórico, obtivemos a informação de que a Instituição não teria sido informada de tal empreendimento. O IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) também desconhece a atividade em Campina Grande, portanto, há um impedimento legal para a realização deste trabalho, por não ter sido expedido nenhuma autorização destes Institutos, que só autorizariam e legalizariam a obra caso existisse um termo de compromisso de um arqueólogo ou de uma equipe de arqueologia que pudesse ser responsável pela coleta, registro e estudo do material encontrado durante a obra bem como a exposição e produção escrita e/ou audiovisual dos vestígios encontrados para a sociedade.

Portanto urge que uma medida oficial seja tomada para que esta empresa cumpra com a legislação vigente e que tenha acompanhando a sua obra uma equipe de arqueologia. Caso isso não ocorra, será mais um grande dano ao nosso patrimônio material, a memória dos citadinos e um imenso desfalque aos estudos da História da cidade. Salvem o Patrimônio Histórico de nossa Rainha da Borborema, pois quando abandonamos a nossa história, desprezamos nossa própria existência.

*Professor de História em Campina Grande

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Contato

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juvandi@terra.com.br

Atualizações:
Thomas Bruno Oliveira (thomasarqueologia@gmail.com)

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